O setor de pecuária leiteira no Brasil vislumbra um futuro promissor, marcado por um período de "vacas gordas". A afirmação enfática é do médico veterinário Alexandro Fritzen, especialista em pecuária leiteira, em entrevista ao programa da programa da Camisc Produtor Campeão. Com quase quatro décadas de experiência no jornalismo do agronegócio, o Jornalista Betto Rossatti, destacou na entrevista que observa um movimento de retorno ao leite por parte de produtores que anteriormente migraram para a produção de grãos.
Fritzen por sua vez, destacou que os produtores que mantiveram a atividade leiteira durante os períodos de menor rentabilidade agora colhem os frutos de sua persistência e visão de longo prazo. "Os produtores que têm uma visão de longo prazo estão aproveitando um momento bastante adequado para a capitalização da atividade", afirmou o veterinário. Ele ressaltou que o cenário global, com a sinalização de falta de proteína animal e o desaquecimento das commodities, tem favorecido a produção de leite em nível nacional.
Disse que o momento atual não é apenas de retomada, mas de consolidação da identidade da atividade leiteira. "Os que ficaram são os que acreditam na pecuária, mesmo nas fases difíceis", pontuou Fritzen, relembrando os tempos de produtividade de apenas 6 a 7 litros por dia, contrastando com a realidade atual de médias de 35 a 40 litros, impulsionada pela tecnologia. Ele citou casos de propriedades na região com genética para alcançar até 70 litros diários por vaca.
Dados apresentados por Fritzen ilustram essa evolução. Enquanto entre 2014 e 2016, a média de produção em sistemas compost-barn no Brasil girava em torno de 14 a 15 litros, em 2022 esse número saltou para 34 litros, com casos de produtores ultrapassando os 40 litros de média geral nos rebanhos confinados e climatizados.
Planejamento faz a diferença no longo prazo
O médico veterinário salientou que a pecuária leiteira, para aqueles com planejamento de longo prazo, sempre será uma atividade relevante. Ele diferenciou o ciclo da pecuária, que pode durar de 5 a 8 anos por vaca, das culturas anuais, onde as decisões são tomadas a cada plantio. "Não é uma atividade para quem treme na base com o primeiro vento, é uma atividade para pessoas que têm um planejamento de longo prazo mais sólido", aconselhou.
Alexandro Fritzen celebrou o atual momento, com margens líquidas atrativas e o retorno de olhares de fazendas de médio porte para a produção animal. Ele reforçou o papel do Brasil como protagonista mundial na produção de proteína animal, detendo as cadeias de produção e o maior rebanho comercial do planeta. "É um momento de valorizar os produtores que têm identidade na produção", frisou.
Leite pode render até quatro vezes mais que o plantio de grãos em um ano
O especialista também destacou a natureza mais técnica da pecuária em comparação com outras atividades agrícolas, que não se baseia em pacotes tecnológicos padronizados, mas sim no estudo de caso de cada propriedade para otimizar a produtividade por hectare e a rentabilidade. Ele apontou para fazendas com médias de 35 a 40 litros que alcançam rentabilidade de 2 a 4 vezes superior às culturas anuais, viabilizando propriedades de pequeno e médio porte.
O cenário para os próximos anos na pecuária leiteira e de corte no sudoeste e oeste de Santa Catarina é otimista, com a expectativa de um novo salto na produção por hectare. Fritzen reiterou o aumento da média de produção em sistemas confinados, de 15 para 34 litros entre 2016 e 2022, e a projeção de um número crescente de produtores atingindo médias de 35 a 40 litros no cenário atual. Isso, segundo ele, fortalecerá a relevância da atividade na região e a consolidará como uma das principais fontes de renda.
Ao final da entrevista, o médico veterinário, que está na fase final de seu doutorado, foi reconhecido por sua expertise e liderança na área, integrando um grupo de veterinários focados em entregar resultados concretos aos produtores. "O negócio é sobrar dinheiro no bolso do cooperador CAmisc, o resto é conversa mole para boi dormir. No caso, a nossa vaquinha está trabalhando 24 por 24", brincou o entrevistador, em tom de otimismo com o futuro do setor.
Texto Betto Rossatti - Jornalista Mtb 187/04/94